domingo, 23 de setembro de 2012

Ilha de Marajó - PA

Mochila nas costas e lá fui eu para mais uma grande aventura em terras pouco exploradas. A maratona da viagem começou as 23h45 e só cheguei ao destino final doze horas depois. Cheguei em Belém 02h10 e lá, fiquei esperando no aeroporto até 06h00 para ir ao porto pegar o barco que faz a travessia para Ilha de Marajó. Existem apenas dois horários para seguir rumo a ilha, 06h30 e 14h30, portanto programe-se para não perder a viagem.



Existem duas opções dentro do barco: R$ 15,89 para ir no térreo ou no primeiro piso em cadeiras comuns ou a taxa de R$ 25,50 para chamada, sala vip que fica no terceiro piso e conta com cadeiras melhores, tv e ar condicionado. Optei pela tal vip pois estava sem dormir a horas e como seriam mais três horas de travessia achei que ia conseguir descansar um pouco. Ledo engano. A tal sala é pequena, cheira a mofo e as pessoas entram e saem o tempo todo fazendo com que você não consiga descansar. Isso sem contar que, por ser o ponto mais alto do barco, peguei um trecho que  balançou tanto que se não tivesse estrutura para aguentar teria passado mal, ou seja, caso pegue este barco Marcos Matheus, opte pela passagem mais barata que sua viagem será bem mais prazerosa.


Depois de três horas e meia dentro do barco, enfim avista-se o Porto de Camará já na Ilha de Marajó. O maior arquipélago fluvial do mundo está localizado ao norte do Estado do Pará, na foz no rio Amazonas e é banhado ainda pelo rio Tocantins (ao sul) e pelo Oceano Atlântico (ao leste). Com extensão de 104 mil km² e uma população de 435 mil habitantes, a ilha possui 16 municípios e dizem que para cada habitante existem 3 búfalos. 


Chegando na Ilha o mais indicado é que você já tenha reservado sua locomoção até a pousada. Quando o barco atraca no Porto você chega em Salvaterra, mas fiquei hospedada em Soure e para isso ainda tinha uma travessia de balsa. Dezenas de carregadores pulam dentro do barco para oferecer seus serviços, portanto não se assuste.



De lá, já tinha reservado o transporte direto com o pessoal da pousada e não tive nenhum problema. Achei a van do Sr Edgar, aliás quase todas são dele e partimos adiante. Cobram R$ 12,00 por pessoa para fazer este trajeto. A van segue com trilha sonora de marajó e ar condicionado ligado no "doze" porque o calor é de matar. Super abafado e com tanta água ao redor é por isso que quase todos os dias cai uma pancada de chuva durante 15min e depois o sol volta a brilhar. 

Chegando no local para fazer a travessia de Salvaterra para Soure vi o primeiro búfalo da viagem. Este trecho é rapidinho, 20 min e cheguei a tão esperada capital da Ilha - Soure. 




A van me deixou direto na pousada que fiquei hospedada. O Canto do Francês é uma pousada simples e charmosinha. Tem uma área verde grande com redes e mesas para as refeições e nos quartos, tv, frigobar, ar condicionado, tela para mosquito nas janelas e banheiro. Tudo o que eu precisava para meus dias na ilha.

Depois de 12h no ar, estava muito cansada, fui direto tomar um banho, comer e beber algo. Assim iniciei os trabalhos. Cerpa (que é cerveja oficial do Pará) com queijo marajoara (diretamente dos búfalos) :D 



Uma relaxada na rede e pernas para que te quero. Para se locomover por lá optei pelos moto táxis que me levavam e buscavam na hora que eu quisesse em todos os lugares. E assim passei esses dias conhecendo Soure com o Sr Benaldo, super simpático e atencioso, me levou para conhecer tudo. Ah! Vale lembrar que a corrida deles para locais mais próximos custa R$ 4,00 e o mais distantes como a praia do Pesqueiro, por exemplo custa R$ 24,00 ida e volta.



Então para não perder o dia inteiro, fui para praia da Barra Velha. No meio do caminho o cenário já começa ficar inusitado. Búfalos a cada esquina andando livremente pelas ruas e na estrada para praia um grupo de guarás, lindos.



O caminho para chegar a praia é inacreditável. Uma ponte que atravessa um mangue enorme. É incrivelmente diferente de qualquer caminho que já tenha feito para chegar a uma praia. Muitos caranguejos, aves de várias espécies, cavalos e claro, búfalos. Vi também uma grande aranha caranguejeira na ponte e isso me fez andar mais rapidamente. É natureza puuuuuuura :D



A sensação de quando você sai daquela mata com mangue sobre a ponte e abre-se um clarão com o imenso mar a sua frente, é realmente emocionante. A praia da Barra Velha tem poucos quiosques e pouquíssima frequentada o que eu achei mais maravilhoso ainda. Fiquei no quiosque Netuno e ali comi um óóóóóótimo caranguejo tomando água de coco. A distância é tão grande, mais tão grande que nem fui até o mar. Várias piscina se formam antes de chegar até lá, e por ali fiquei alegre e contente.



Na hora combinada lá estava Sr Benaldo para me buscar e então fui fazer uma refeição de verdade no restaurante Delícias da Nalva. Já havia pesquisado e tinha lido coisas boas sobre o restaurante, mas conhecer a Dona Nalva foi ainda melhor. O restaurante ainda não estava aberto mais ela me recebeu de braços abertos e foi preparar um filhote (peixe da região que de filhote só tem o nome) ao molho de camarão. Poucas vezes comi um peixe tão bom. Ainda acompanhava farofa de castanha do pará e vinagrete de limão de caiena. Isso sem falar que antes de tudo isso ela me deu um licor bem gostoso que eu nem lembro do que era, uma jarra enorme de suco de cupuaçu e pra finalizar um cafezinho que é torrado junto com erva doce e acompanha um biscoitinho de castanha.



Eu particularmente jamais tinha escutado sobre este limão e achei uma delícia. Na verdade depois descobri que não se trata de um limão, é da família da carambola, porém é muito usado como limão. Esse fruto, dizem ter vindo de Caiena (capital da Guiana Francesa), por isso o nome e entrou no país através do Amazonas. Depois deste banquete e muitas histórias contadas pela Dona Nalva voltei para pousada e desmaiei.

No dia seguinte acertei direto na pousada para fazer um passeio na Fazenda São Jerônimo. As 09h em ponto já estavam lá na porta da pousada. O passeio custa R$ 75,00 já incluso o transporte para ir e voltar para a pousada e vale muitíssimo a pena. Nas fotos abaixo você vai entender porque.


Tudo começa com a simpática recepção do Sr Brito que já começa a conversa perguntando se você quer passar repelente de onça...rss Conversamos sobre o turismo local e a falta de apoio que faz com que ele próprio tenha que criar meios de divulgação para manter o turismo na fazenda. Isso porque a Fazenda São Jerônimo é conhecida internacionalmente pois lá foi realizado o programa No Limite 3 além da culinária de sua esposa, Sra Jerônima que prepara pratos regionais dignos de chefs internacionais irem visitá-la para aprender suas receitas.


Além de ser a primeira vez na minha vida que subi em um búfalo o meu ainda por cima era loiro. É uma experiência e tanta guiar um bichão desse tamanho. Segui por uma trilha e no meio do caminho ele comeu vários folhas e eu ali com um medo danado de ser derrubada, mas no final deu tudo certo e foi super divertido.


Depois de percorrer este trecho chega um ponto aonde a trilha segue a pé por palafitas entre um imenso manguezal deslumbrante. Em vários pontos passei por entre as árvores e o mais curioso são essas árvores que se uniram e tem uma lenda que dá nome a trilha. Os mangueiros apaixonados. Diz a lenda que índios de tribos rivais se apaixonaram mas foram proibidos de ficarem juntos. Foi então que os dois foram até este local e tomaram um veneno e anos depois nasceram sob forma de dois mangueiros abraçados entre si.


Eis que, não mais que de repente saio do mangue e chego a uma praia completamente deserta. Só vendo para crer o tamanho das raízes dessas árvores. A cena é indiscutivelmente reveladora, a vontade é de sentar ali e ficar por horas só admirando tudo isso e claro, sair correndo e se jogar nessa imensidão de águas.


Mas o passeio continuava e dali segui de canoa a remo subindo o rio até voltar a fazenda e mais uma vez vários tipos de pássaros passaram na minha frente o tempo todo. O percusso todo do passeio dura apenas três horas, mas é tudo tão intenso que parece muito mais tempo. Portanto fica a super dica. Não é válida a ida a Soure sem visitar a Fazenda São Jerônimo. Na volta, lá estava Sr. Brito já esperando com um magnífico suco de acerola. Depois de mais um pouco de prosa voltei para pousada para segunda etapa do dia.

Hora de conhecer a Praia do Pesqueiro e lá fui eu de moto táxi mais uma vez. Esta praia fica a 8km do centro da cidade e é a que tem maior estrutura com quiosques, artesãos e uma vila de pescadores. 


As praias de Soure são espetaculares. Uma imensidão de terra, mar e rio quase sem ninguém. Eu me sentia cada vez mais no paraíso e por lá fiquei até o sol se por.


Eis que de repente pude presenciar a tão famosa chuva da tarde do Pará. O céu ficou cinza e a nuvem veio vindo do mar até que chegou a praia com força total. Nos quiosques momento de tensão absoluta. Todos saem correndo para recolher mesas e cadeiras porque o vento chega levando tudo. Nesta hora fui para dentro do quiosque aonde estava, Maloca de Deus e ali continuei  degustando as delícias de marajó com o mundo caindo lá fora. Bastam 30min e tudo volta ao normal como se nenhuma chuva tivesse caído ali, é incrível.


Depois de um dia inteiro cheio de aventuras e paisagens novas na minha vida, voltei para pousada para descansar um pouco e dar um volta a noite pela cidade. Literalmente foi o que fiz, dei uma volta com direito uma pequena parada na barraca da D. Iolanda para experimentar os sabores do Pará.


A cidade não tem absolutamente nada além de algumas barraquinhas de sorvete, açaí e comidas típicas. Confesso que achei tudo bem estranho. O tacacá é algo muito bom para comer se estiver com ressaca, tenho certeza que cura na hora. O sabor é único, não consigo compará-lo a nada e o jambu de fato é uma folha que deixa sua língua anestesiada. Já a maniçoba tem um aspecto que não me agradou, mas o sabor lembra uma feijoada. Detalhe, caso queira tomar um refrigerante depois desta gastronomia bem diferente não ache que terá facilmente esses que estamos acostumadas. Guaraná por lá chama-se Garoto e Carimbó - dooooooce de doer.
E assim mais um dia termina. De volta a pousada porque amanhã é dia de acordar cedo para o último dia na ilha.


Uma passada pelo farol da ilha que existe desde 1888 e foi solicitado por Visconde de Mauá. Fica na ponta do Garrote, na Praia de Mata Fome. Depois uma voltinha pelo centro da cidade com direito a uma parada na Igreja Matriz Nossa Senhora da Consolação, construída entre 1936 e 1942 e depois fui conhecer o Curtume. Há mais de 50 anos Sr Antenor produz vários tipos de artesanatos em couro de búfalo e lá mostra todo o processo para quem quiser e aguentar ver e sentir o cheiro do couro do búfalo em processo de curtimento.


Seguindo agora para conhecer a casa de artesanato Arte Mangue Marajó do artesão Ronaldo Guedes que tem trabalhos incríveis de peças exclusivas em madeira e cerâmica. Além disso Ronaldo e sua esposa Cilene ajudam na capacitação de pessoas da comunidade gerando renda. Outro ponto obrigatório para levar aquela lembrança de Soure.


E assim me despedi da Ilha de Marajó. Lugar encantador que com certeza ainda terei que voltar algumas vezes pois nesta rápida viagem só conheci um único município dos dezesseis que a ilha tem. As 15h, o único horário da balsa no domingo, lá estava para voltar a Belém.

Como só tinha a noite para conhecer a cidade, lá fui eu. Direto para o hotel tomar um banho, deixar as malas e um super mini tour por Belém. Tive a imensa sorte de sair do porto e pegar um taxista, Sr Melo (91 9190-2121 ou 91 8141-0898) super simpático e já deixei combinado com ele este tour e lá fui eu.


O passeio começou pelo imponente Theatro da Paz, que infelizmente estava fechado então só pude observar seu exterior. Seguimos pelo Mercado Ver-o-Peso e no cais estavam embarcando muitos quilos de açaí. Andando pelas ruelas do centro de Belém passamos pelo prédio do tradicional jornal O Liberal.


Logo depois fomos ao complexo Feliz Lusitânia, aonde ficam os locais mais lindos do ponto de vista turístico da cidade. Este complexo é uma praça onde estão o Forte do Presépio, o complexo de Santo Alexandre, a Catedral da Sé, a Casa das Onze Janelas e a Igreja de São João.


E para finalizar o tour parei na Estação das Docas, um lugar super interessante em Belém. São três enormes armazéns com vários bares, restaurantes, ações culturais e moda. Parei no restaurante Lá em Casa e comi um filé marajoara com suco de bacuri. Para sobremesa não tem como deixar de comer um sorvete da Cairu que conta com muitos sabores regionais e é tradição no Pará.

Fim de festa, hora de voltar ao hotel para descansar apenas algumas horinhas porque o vôo da volta sai na madrugada.

Enfim, conheci uma pequena área do norte do nosso país que me encantou demais e que espero ainda poder explorar vários outras.

" Quando eu morrer 

se eu não for pro céu 
eu vou lá pro Marajó
montar num cavalo baio
debaixo das cores do sol..." 
(Eduardo Dias)


Informações úteis: Soure conta com agências do Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Caixa Econômica (Lotérica) e Bradesco (Correio).
Inverno: de janeiro a junho / Verão: de julho a dezembro
Na volta o barco de Soure para Belém foi outro chamado Soure, neste vale a pena ir na sala vip.
Existe a opção de aluguel de bicicleta na cidade com o Bimba - 91 8135-1065.

6 comentários:

  1. muito legal seu post. Estou procurando pousada com valores mais baixos... conhece alguma la? tem muitas?

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  2. Olá urso! Desculpe a demora, mas vamos lá! então, na Ilha de Marajó existem várias pousadas, hostel e pensões domiciliares. De um modo geral nada é muito caro por lá. Vá que você não se arrependerá.

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  3. Uau! Lendo seus relatos a vontade de ir aumentou! Parabens pelo blog e pelo post.
    Abraços.

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  4. Oi Claudia, muito obrigada. Vá mesmo que irá amar essa ilha. abs

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  5. Adorei seu blog,Andreia . Eu e meu marido iremos a Belem em setembro por 8 noites que serao distribuidos para conhecer Belem,Soure E voar p Santarem para conhecer Alter do chão.Eu conheci Belem e Soure por volta de 1977 quando eu era estudante ,indo ao encontro de estudante de medicina e adorei. estou voltando para rever Belem ,Soure e conhecer Alter do Chão.suas dicas e ao Ricardo irão me ajudar na minha programação .Eu adoro viajar,pois as memorias e experiencias de viajem são as que ficam.bjs Kion

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  6. Olá, vamos conhecer o Marajó?
    Sou Dirlene, Condutora de Turismo, Turismóloga formada pela Universidade Federal do Pará no ano de 2007 e moradora apaixonada desta bela ilha, mas propriamente no Município de Soure, informalmente intitulado como "Capital do Marajó".
    Parabenizo por tão bela e detalhada descrição, muito me alegra o fato de que tenha gostado de nosso lugar e desfrutado de alguns de nossos mais melhores atrativos.
    Me coloco a disposição para receber os amigos em nosso Marajó, fazemos passeios turísticos em Soure e Salvaterra, duas das 12 cidades que compõe esta que é a maior ilha flúvio-marítima do mundo.
    No mais, muita natureza, tranquilidade, cultura, gastronomia local e encantos esperam por todos, de preferência ao rítimo de um gostoso carimbó, dança tipic de nossa região.
    Seguem abaixo meus contatos: passeios, transporte próprio, assessoramento na viagem Belém-Soure, reserva em hotéis ou pousadas, tudo isso com a missão de fazer a cada um sair daqui com uma imensa vontade de voltar.
    Dirlene Silva
    (91) 98150-0378 TIM (wattsap)
    (91) 98758-6455 OI
    E-mail: disoure@hotmail.com
    Facebook: Marajó EcoTur

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